“Resta-nos a canção a confundir
o silêncio das coisas no porvir...”

Poesia
e Arte de André de Sena

Novas

A espinha dorsal do espanto: celebrando a literatura e a arte de Braulio Tavares

Nos dias 23 e 24 de outubro de 2024, o Belvidera – Núcleo de Estudos Oitocentistas, grupo de estudos do Dep... Leia mais

Literatura fantástica em debate na UFPB

Fui convidado pelo Departamento de Letras da UFPB para participar de um encontro nacional de literatura fantá... Leia mais

Alguma poesia

Riso crescente

Diabólico riso a noite traz,
sorriso lácteo em meio à brisa escura.
Nem as nuvens demovem-no; mordaz,
gargalha à feia morte e à formosura.

Dos cínicos, a sátira desfaz
o sorriso de prata das alturas.
E tocando o bordão das coisas más,
o astro sorri de nossas desventuras.

Se além da escuridão rosto não vejo,
ouço a sinistra Lua que consola
com seus loucos e mágicos arpejos.

Tudo é risível! Tudo é pequeneza!
A virtude profunda se estiola
no imenso gargalhar da natureza!

Proteu

Ergo a vista ao profundo céu agora
onde no ar digladiam mil brancas hostes,
retrato do que és e do que foste,
erguendo as mãos ao sangue das auroras.

Não somos mais os mesmos, os de outrora
(resta-nos a canção a confundir
o silêncio das coisas no porvir),
o vento leva as nuvens sem demora.

Quando os anjos da morte ressoarem
as pútridas cornetas pelos ares
e em teu batel vagares mansamente

o cintilante dorso da onda ausente,
contempla a natureza e te desfaz,
mudaste sempre, sempre mudarás.

Sob a lua vagueia

Sob a Lua vagueia estranha corte,
heróis em armas, pálidos aedos,
brancas donzelas saltam do arvoredo
e, em fúria, os lobos uivam para a morte.

“Quem sois, visões etéreas sob olmedos?” –
no campo lhes gritei em meu transporte –
“Conduzireis aonde o altivo porte?”
Silêncio… e o vento canta nos rochedos.

E quis me aproximar, seguir meu fado,
então um velho rei paramentado
bradou: “Somos o exército dos sonhos,

afastai-vos, mortal, pela outra via!”
– “Mas no altar eu comungo da Poesia!”,
disse, e o rei acedeu co’o olhar tristonho.




Leia mais

André de Sena

Poeta, escritor e músico nascido em Recife em 26 de novembro de 1975, André de Sena filia-se, na prosa literária, a diversas tradições e modalidades imaginativas setecentistas e oitocentistas; na poesia, a um universo pessoal, mas também intertextual, que tem como base o onírico, o simbólico, o imanentista; na música, às linhagens do rock, do progressivo, do experimentalismo.